José Tribolet
“A Vida é imparável.”
Se o país pudesse parar um ano
para pensar, o que é que lhe aconselharia a fazer durante
esse período?
- Refundar intelectualmente Portugal, tendo a coragem de :
1º - Definir, a partir de uma base zero, qual a Mais
Valia da existência do País, como Estado independente,
neste mundo globalizado, competitivo e complexo. Sem medo
enfrentarmos o desafio de clarificar se há e quais
são as razões colectivas pelas quais nós
- os cidadãos de hoje, novos e velhos, queremos continuar
a SER PORTUGAL, sem que isso decorra de uma fatalidade histórica
herdada dos nossos Avós. Enfim, darmo-nos a oportunidade
de fazermos psicanálise colectiva para encontrarmos
caminhos para sairmos do fatalismo em que vivemos, que nos
impõe a condição de portugueses como
um castigo, e não como uma opção de Homens
Livres.
2º - Definir, a partir de uma base zero, o papel do Estado
e da Administração Pública, central e
local, na nossa Sociedade, formulando esse papel a partir
dos outputs - isto é, os produtos e os serviços
- o que colectivamente queremos atribuir ao Estado e à
nossa Administração Pública. Afinal,
nós somos todos accionistas desta sociedade chamada
Portugal e o Estado deve ser aquilo que a gente quer e não
é o País que deve ser o que o Estado quer!
3º - A partir da definição do papel do
Estado - em termos do que ele FAZ para cada um de nós
e para a nossa Sociedade nacional, clarificarmos quais os
processos - entendidos como sequencias de actividades que
devem ser seguidos para produzir esse produtos e serviços
e, nesse âmbito, quais as actividades que têm
de ser exercidas por agentes do Estado/AP, e quais as que
não têm de ser e /ou não devem mesmo ser
exercidas pelo Estado/AP.
- Que ano bem passado e proveitoso para o nosso futuro seria
este, em que refundávamos Portugal! Que bem precisa
coitado!
PS: Eu acho que vale a pena existir Portugal. Mas toda a gente
tem medo de pensar livremente sobre isto? Porque será?
Se todos formos líderes, o que é que
acontece às hierarquias?
Cada pessoa tem capacidade para ser líder em algum
domínio! Cada um de nós deve prosseguir a sua
excelência, em competição consigo próprio.
As hierarquias exercem-se noutro plano, organizando os processos
de tomada de decisão, no contexto de processos, organizações
e problemáticas complexas.
Liderança é excelência relativa no exercício
de uma capacidade particular, num determinado domínio
de acção. Um verdadeiro líder ambiciona
estar rodeado de uma plêiade diversa de competências
e valências, exercidas pelos respectivos lideres.
Sonho com um Portugal de 10 milhões de lideres. Todos
iguais e todos diferentes. E com um Portugal com hierarquias
competentes para comandarem organizacionalmente os processos
criadores de mais valia económica, social e cultural,
essenciais à nossa vida individual e colectiva.
Quão profunda tem de ser uma crise para se
inverter o sentido?
Muito mais profunda que a actual infelizmente. Normalmente
o bicho homem só inverte o sentido quando vê
a sua (dele!) VIDA em risco. Isso sucede com as guerras e
as grandes catástrofes naturais... Mas em Portugal,
a crise ainda não impede a gente de comer e beber e
ter bom solzinho, e ler o jornal, etc...
Não estamos prestes a inverter o sentido. A crise que
temos não transmite a cada um de nós risco de
nossa vida como indivduos. Portanto, a crise é dos
outros...
O caminho é “agir já”, “pensar
o futuro a curto prazo” ou visionarismo?
Não há O CAMINHO! Há caminhos e eles
estão sendo trilhados para o bem e para o mal, com
grande diversidade. Há muita coisa a mudar em Portugal,
para melhor. A VIDA é irreprimível e caótica,
e nesse sentido há muita coisa boa a acontecer. Há
muita "acção já" que decorre
dos interesses individuais e de pequenas colectividades e
que estão a traçar os caminhos do futuro. Xiú...!
Sem que "As hierarquias saibam", felizmente.
Fazem falta visionarismos, debate de ideias e projectos, não
comprometidos, não demagógicos, não instrumentalizados!
Fazem falta líderes visionários, "think
tanks", enfim, todo um espaço de animação
intelectual para além da mesquinhez da politica dos
politicos, que sendo essencial não se devia confundir,
nem ocupar este precioso espaço das utopias dinamizadoras.
Mas a paróquia é pequenina, os media muito grandes
e dominadores, na sua chatice tão previsiível
e que o povão tanto gosta. Por isso, as moscas mudam,
mas a --- continua.
Quais são as traves estruturais
da mediocridade?
1. Pensar que os outros nos devem alguma coisa e têm
a obrigação de nos servir.
2. Sermos menos exigentes connosco do que para com os outros.
3. Não acreditarmos na educação da mente
e do corpo, desprezarmos os nossos jovens.
4. Não acreditarmos no valor do conhecimento adquirido,
desprezarmos os nossos velhos.
5. Não acreditarmos na Natureza, desprezarmos os nossos
recursos naturais e a nossa saúde.
6. Não acreditarmos na nossa capacidade colectiva,
desprezarmos as regras, a disciplina, a autoridade.
7. Não nos guiarmos por códigos de conduta ética
e moral, prezando a honra, a lealdade, a competência,
o sacrifício, a solidariedade, a responsabilidade,
o civismo.
8. Consideramos normal aldrabar, tudo e todos. E a nós
próprios!
Acredita que este país
pode mudar?
Sim! Porque a Vida é imparável. E as condições
de mudança, para melhor, vão acontecendo, com
o progresso da educação, a abertura ao exterior,
a observação dos Outros, e a constatação
progressiva do falhanço dos velhos paradigmas que já
não são adequados à construção
do nosso Futuro.
Mas a mudança irá provavelmente acontecer -
como é normal na Natureza - com Crise, Sofrimento,
Destruição.
Mas vai mudar!
A questão é se vamos ficar apenas abaixo de
Marrocos, ou se o País se desloca mesmo para o Golfo
da Guiné! |