Miguel Branco
“A grande expansão urbana
de Lisboa atraiu construtores com capacidade técnica
duvidosa.”
Se houvesse um sismo em Lisboa de magnitude
semelhante ao de 1755, que tipo de construções
tenderia mais facilmente a ruir?
Essa pergunta é difícil de se responder com
certeza, pois existem uma série de variáveis
com influência directa na resposta sísmica dos
edifícios, tais como o tipo do terreno, a qualidade
da construção e a proximidade de edifícios
mais recentes, que tornam difícil uma análise
global. Assumindo igualdade de circunstâncias eu diria
que os edifícios Gaioleiros, típicos do início
do séc. XX que existem na zona das Avenidas Novas,
Av. Almirante Reis e Campo de Ourique são a tipologia
mais susceptível de sofrer os maiores danos. Estes
edifícios surgiram com a grande expansão urbana
de Lisboa o que atraiu construtores com capacidade técnica
duvidosa e utilizando materiais de um modo geral de fraca
qualidade.
Que medidas poderiam ser adoptadas
para promover a resistência sísmica dos edifícios
quando da sua construção?
Qualquer edifício construído actualmente é
sujeito a uma concepção anti-sísmica
devido a exigências regulamentares. Habitualmente procura-se
reforçar os pilares e criar paredes que aguentem a
força gerada durante um sismo de magnitude elevada
com danos reduzidos para o edifício. Existem outras
alternativas menos comuns que apenas se pondera a sua utilização
em pontes ou hospitais. Nestes casos podem-se utilizar borrachas
isoladoras nas fundações ou amortecedores que
controlem as oscilações provocadas durante um
sismo.
Em Portugal, a fiscalização
das regras de construção anti-sísmica
é bem orientada?
Devido a Portugal ser um país propício à
ocorrência de sismos, os engenheiros civis portugueses
são dotados de considerável conhecimento técnico
relativamente à construção anti-sísmica,
que é incutido ao longo da universidade. A fiscalização
não actua directamente sobre a qualidade da construção
anti-sísmica, mas penso que a maioria dos projectistas
não a menosprezam.
Quão mais caro sai construir
um edifício com soluções anti-sísmicas?
Como referi anteriormente existem dois tipos de soluções
anti-sísmicas. As mais comuns já estão
incluídas em todos os projectos sendo obrigatórias
por lei. As outras soluções são de implementação
mais complexa, exigem mão-de-obra especializada e conhecimentos
que nem todos os engenheiros detêm, uma vez que a maioria
destas tecnologias é de ponta. Assim sendo apenas se
torna rentável a sua consideração para
edifícios públicos e redes de transportes (como
em pontes ou reservatórios) onde se tem que garantir
o funcionamento pleno após a ocorrência de um
sismo.
Considera exequível a recuperação
de todos os edifícios Gaioleiros, com vista a conferir-lhes
resistência aos sismos?
Relativamente aos edifícios Gaioleiros, não
é economicamente exequível a reabilitação
sísmica de todos os edifícios. Existem contudo
uma série de cuidados que devem ser tomados para garantir
a sua preservação até que seja economicamente
viável a sua recuperação total. Deve-se
ter o cuidado de reforçar as fundações
quando se detectarem assentamentos, reforçar-se as
paredes quando forem visíveis grandes deslocamentos
ou abertura de fendas. Esta tomada de consciência já
está a ocorrer em Portugal o que é extremamente
importante para a segurança global da população.
Que grau de fiabilidade têm
as suas simulações em computador?
A maioria da engenharia civil moderna é baseada no
“método dos elementos finitos”. De um modo
muito simplista este método determina a distribuição
dos esforços numa estrutura, provocadas por determinadas
forças, de acordo com a flexibilidade dos seus elementos.
Este método já está bastante desenvolvido
e apresenta um grau de fiabilidade muito elevado para análise
de materiais e estruturas correntes. No meu caso estudei um
material muito heterogéneo que é a alvenaria
de pedra, razão pela qual procedi a ensaios ao edifício
que serviu de base, para calibrar a simulação
em computador. Embora esteja a trabalhar com muitas variáveis
de difícil controlo, os resultados de um ponto de vista
qualitativo forneceram resultados interessantes, para as três
técnicas de reforço sísmico que ensaiei:
reforçando-se com paredes de betão armado, com
a colocação de borrachas sob as fundações
e com amortecedores sísmicos (dissipadores viscosos). |