Bruno Sousa
“5, 4, 3, 2, 1......Descolagem!”
Como se constrói um foguete
de cartão?
A receita divide-se em 3 fases muito resumidas em seguida
(recomendo a pesquisa e leitura de mais informação
sobre o astro-modelismo ou ”rocketry” e sobre
os cuidados a ter com a actividade e manuseamento de cargas
de pólvora e projécteis):
Primeiro planeia-se: Um micro-foguete deverá ter um
corpo cilíndrico rígido de 20 a 30 cm de altura
e com cerca de 2 cm de diâmetro. Precisa de 3 ou 4 aletas
na base para estabilizar o voo. Precisa de um motor (cargas
de pólvora que podem ser adquiridas em lojas de aeromodelismo)
para propulsão e de um pára-quedas para aterrar.
Precisa de um cone ou ogiva no topo para furar o ar que deverá
ter pelo menos duas vezes o diâmetro do corpo. Há
que contar com 2 cm extra para entrar à justa dentro
do corpo do foguete sem ficar demasiado apertado, porque a
ogiva será ejectada pelo motor, para expulsar o pára-quedas.
Segundo constrói-se: Para o corpo usar um tubo de cartão
(por exemplo rolo de cozinha). Pode-se fazer também
um tubo com papel de cavalinho A4 e cola de madeira usando
um cabo de vassoura como molde. Para fazer a ogiva, é
preciso esculpir a forma desejada a partir de um bastão
de madeira de balsa com o mesmo diâmetro do tubo. O
pára-quedas pode ser um círculo recortado de
um saco de plástico com 20 centímetros de diâmetro
e com 4 fios unidos num nó. Deste nó deverá
partir um fio que ficará preso ao tubo e outro à
base da ogiva para não se perder as partes do foguete.
As aletas devem ser todas iguais e recortadas de uma folha
de balsa com 3 mm de espessura, e coladas na base, alinhadas
ao eixo longitudinal do foguete.
Terceiro lança-se: A rampa de lançamento poderá
ser uma vareta de metal com 0,5 cm de espessura e 50 cm de
comprimento, espetada no chão, a 10 graus da vertical
na direcção para onde vai o vento, em zona descampada
e sem pessoas. Coloca-se um pedaço de algodão
entre o topo da carga e o pára-quedas para evitar que
este se queime com a ejecção. Dobra-se o pára-quedas
e coloca-se dentro do tubo e fecha-se o foguete com a ogiva.
Cola-se 2 cm de palhinha ao eixo longitudinal do foguete para
colocá-lo na rampa. Instala-se a carga pela base garantindo
que está bem fixa. Usa-se um cabo de 25 metros para
fornecer electricidade ao rastilho de ignição
da carga. O cabo ligará a uma caixa com chave de segurança
e interruptor que por sua vez ligará a uma bateria
de automóvel. Quando a zona do voo estiver totalmente
desimpedida e todos os participantes do lançamento
bem para trás da trajectória do foguete, faz-se
a contagem decrescente em voz bem alta: 5, 4, 3, 2, 1......
Descolagem!
Que proveitos para a Humanidade poderão trazer
as informações recolhidas em Vénus?
Eu vejo os proveitos para Humanidade, essencialmente, em 3
áreas: Em primeiro lugar para o conhecimento e a ciência.
Esta sonda é um instrumento científico muito
poderoso; com uma capacidade de análise e precisão
muito superior aos instrumentos anteriormente enviados para
Vénus; com uma enorme capacidade de armazenamento de
dados e de transmissão para terra. A sonda recolherá
parâmetros científicos de forma mais sistemática,
que permitirão estudar, aperfeiçoar e validar
modelos físico-químicos do planeta e seu ambiente
com maior rigor. Os dados recolhidos estarão ao dispor
de toda a comunidade científica que poderá desenvolver
investigação. As comparações com
os modelos terrestres ajudar-nos-ão a compreender melhor
a evolução do nosso próprio planeta em
termos de dinâmica atmosférica, clima, efeito
de estufa, etc.
Em segundo para a tecnologia, a indústria e a economia
europeia: Mobilizando empresas em variadíssimas áreas
a desenvolver tecnologia avançada, aplicações
e serviços; Mobilizando indústrias paralelas
a transferir aplicações para outras áreas
económicas; Criando emprego qualificado.
E em terceiro para o público em geral: Estimulando
o seu interesse pelo espaço como fronteira inexplorada
(convertendo ficção em realidade); o interesse
pelo conhecimento das origens e comportamento do universo
em geral e do nosso sistema solar em particular; e pela compreensão
do nosso papel e dimensão nesta gigantesca e maravilhosa
máquina que é o universo.
Qual será o seu trabalho,
durante os próximos dois anos, na Vénus Express
(VEX)?
O meu trabalho com a VEX assentará em… 3 vertentes
essenciais:
Por um lado como responsável térmico e eléctrico:
consistirá em desenhar mecanismos para monitorizar
a saúde dos sistemas pelos quais sou responsável,
por exemplo: Monitorizar a degradação dos painéis
solares e da capacidade das baterias, monitorizar os ciclos
acumulados dos aquecedores e termóstatos e analisar
falhas, e redesenhar o modo de operação da sonda
em caso de avaria nestes componentes.
Por outro, como responsável de instrumento: terei a
meu cargo manter e validar os procedimentos para operar o
instrumento SPICAV (um espectrómetro ultravioleta e
infra-vermelho), e verificar que as actividades científicas
não violam os constrangimentos de operação
deste instrumento.
Por outro ainda, como planeador e supervisor de rotina: caberá
a todos os membros da equipa revezarem-se nas tarefas de validar
o plano de observações científicas em
função da disponibilidade de recursos da nave,
isto é, não excedendo os limites de capacidade
de produção eléctrica, os limites de
armazenamento de dados na memória e os limites de descarga
dos dados para Terra; e produzir a pilha de comandos que permite
à sonda executar o plano. E por fim supervisionar a
interacção com a sonda e a integridade das operações.
Tenho também a meu cargo gerir o desenvolvimento, actualização
e manutenção do software de planeamento e produção
de comandos.
Como se antecipam os sete minutos que levam as comunicações
da Terra para a VEX no que se refere à sua manobrabilidade?
O chamado atraso de propagação do sinal é
antecipado planeando toda a actividade da sonda com muita
antecedência, o que é feito, curiosamente, em
3 passos fundamentais:
O primeiro é o ciclo de planeamento de longo prazo:
Determinam-se as oportunidades de manutenção
da sonda, de utilização da antena em terra e
a largura de banda disponível para 6 meses de operações,
e fornece-se esta informação ao Centro de Planeamento
de Ciência (VSOC no ESTEC, Holanda) que elabora um plano
de observações para cada 4 semanas, em função
dos pedidos dos cientistas.
O segundo é o ciclo de planeamento a médio prazo:
Dois meses antes da actividade, e em conjunto com a equipa
de Dinâmica de Voo, valida-se o plano de observações
e manobras contra os constrangimentos da sonda e do ambiente
em redor.
Por fim o terceiro é o ciclo de curto prazo: O plano
de observações é detalhado ao pormenor,
para cada semana, e torna-se a validar tudo uma semana antes,
integrando as últimas determinações de
órbita para maior precisão e geram-se os comandos.
Estes são então carregados para a memória
de bordo, diariamente, e com 2 dias de antecedência
e a VEX, que é muito autónoma executa-os chegando
a altura certa. Os 7 minutos (que podem ser 15 quando Vénus
se encontra no lado oposto do sol) só são realmente
um problema quando necessitamos de operar em tempo-real, o
que só acontece, normalmente, em casos de emergência.
Sonha um dia ser Captain Kirk?
Bom, a resposta a esta pergunta tem, invariavelmente, 3 partes…
sim, sim e sim... Um dia gostaria de gerir uma equipa de controlo
de voo, de preferência numa missão interplanetária.
É um trabalho aliciante que implica coordenar todas
as vertentes de operacionalidade da missão: Os sistemas
de monitorização, os sistemas de planeamento,
os sistemas de comunicação, o manual de operações
de voo, a gestão dos recursos e o treino da equipa,
e culminando na responsabilidade de tomar decisões
críticas em operações críticas.
Mas não desdenharia também, usando a experiência
de operações, um dia vir a desenhar e conceber
novas missões. E num futuro um pouco mais distante
enveredar pelo ensino e transmitir essa experiência
aos que se seguem.
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