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# 45 | 05 Junho 06
 

Nasceu em Calatayud (Saragoça) em 1970. Depois de se licenciar em Jornalismo na Universidade Complutense de Madrid em 1994 mudou-se para a Irlanda do Norte onde foi professor no Departamento de Ciência Política da Universidade do Ulster, em Belfast, até 2004. Durante esse período, acumulou funções de docente com o trabalho de investigador no Institute of Irish Studies e no Institute of Governance, Public Policy and Social Research, ambos na Universidad Queen’s. Esta mesma instituição concedeu-lhe em 1995 a prestigiada Montgomery Medal pelo melhor trabalho de investigação sobre política irlandesa.

Publicou numerosos capítulos sobre terrorismo em livros colectivos e em artigos em revistas académicas, como é o caso da Studies in Conflict and Terrorism, bem como a Terrorism and Political Violence. A Asociación Española de Ciencia Política (AECPA) concedeu-lhe em 2005 o prémio de melhor artigo em revista académica pela sua análise comparativa dos fenómenos terroristas na Irlanda do Norte e no País Basco publicada na Terrorism and Political Violence. Para além disto é autor dos livros A paz em Belfast (Madrid: Alianza Editorial, 2000), Irlanda do Norte: uma história de guerra e a procura da paz (Madrid: Editorial Complutense, 2001), e Matar pela Irlanda. O IRA e a luta armada (Madrid: Alianza Editorial, 2003).

Actualmente é professor investigador Ramón y Cajal de Ciência Política na Universidade Rey Juan Carlos de Madrid, onde coordena a Unidade de Documentação e Análise sobre Terrorismo (UDAT) e o programa de doutoramento em Análise e Prevenção do Terrorismo, único em Espanha sobre a matéria.

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Rogelio Alonso
“Na sua decadência, grupos como a ETA procuram perpetuar-se mediante a promessa de um desaparecimento que nunca acontece.”

O processo de paz da Irlanda do Norte é um bom modelo a seguir agora em Espanha?
Sim. Apesar das diferenças entre os dois contextos, as características dos fenómenos terroristas que tiveram lugar em Espanha e no Reino Unido tornam muito pertinente a comparação neste momento actual. Ainda que o cessar da violência do IRA se tenha produzido na ausência de concessões significativas em relação ao movimento terrorista e ao seu ambiente, inaugurou um processo no qual os seus representantes políticos beneficiaram de gestos por parte dos governos britânico e irlandês que gerariam consequências prejudiciais para a normalização política, repercutindo-se negativamente no objectivo do desaparecimento da organização terrorista. Desse modo, não só continua a limitada autonomia norte-irlandesa suspensa desde o Outono de 2002, como permanecem activos diversos grupos terroristas, entre eles, o IRA. Abandonou a sua campanha de atentados mas em troca não renunciou à recompilação de inteligência e outras actividades criminosas que lhe garantem financiamento e poder. É certo que o Sinn Fein optou por várias vias políticas, mas sem renunciar à contribuição do IRA que, a partir das suas actividades ilegais, continua ao serviço do partido político. Assim, garante benefícios mediante a promessa do seu desaparecimento, algo que logicamente não chegará, pois é precisamente a fonte de concessões para o grupo. Quer dizer, as vias políticas empreendidas não são de todo democráticas, propiciando um cenário que seduz sem dúvida a ETA e o Batasuna.

O que deve ser feito de outra maneira em Espanha para que isto não aconteça?
Na sua decadência, grupos como o IRA e a ETA procuram perpetuar-se coagindo actores políticos e sociais mediante a promessa de um desaparecimento que não acontece se a resposta governamental se traduz em concessões que demonstram a eficácia de manter a organização terrorista, pois esta presença garante contraprestações que sem ela não se produziriam. A dita dinâmica favorece a perigosa legitimação de quem utilizou a violência para colocar obstáculos a uma verdadeira normalização política e obtenção da paz. É por isso que o diálogo paralelo entre o governo e a ETA, ao mesmo tempo que os partidos discutem com o Batasuna a reforma do marco estatutário, consolidaria um grave défice democrático. As negociações políticas realizam-se sem o desaparecimento de uma organização terrorista cuja mera declaração de cessar actividades violentas não constitui uma prova inequívoca da sua vontade de por um fim à sua existência. Como o caso da Irlanda do Norte demonstra, a mera presença de uma organização terrorista condiciona processos políticos nos quais participa o partido que a representa, ao favorecer uma coacção que em nada incentiva a sua dissolução definitiva. Não seria estranho que a ETA e o Batasuna persigam um cenário semelhante, daí a necessidade de manter exigências firmes a partir do governo como o desarme e a dissolução total do grupo armado, reclamações que deveriam ser satisfeitas e verificadas rigorosamente antes de se considerar qualquer diálogo sobre presos e outras questões políticas como o regresso à legalidade do Batasuna. Isto impediria que a organização terrorista pressionasse o resto dos actores, incentivando assim o Batasuna a exigir à ETA a sua verdadeira extinção.

O atentado do 11 de Março foi determinante para que a ETA não tenha voltado a matar desde então?
Sim, ainda que é certo que desde o 11 de Março a ETA tentou assassinar em diversas ocasiões e por sorte não o conseguiu. É verdade que este massacre condicionou em certa medida a ETA, porque elevou o custo político dos assassinatos do grupo armado, proporcionando assim uma maior relutância por parte do grupo no momento de perpetuar determinadas acções terroristas, como os assassinatos. No entanto, os êxitos das forças e corpos de segurança foram determinantes para que a ETA deixasse de matar. Também é importante ressaltar, neste sentido, o documento de um dirigente etarra que no ano passa pediu para “pôr os mortos em cima da mesa” durante o período eleitoral no País Basco.

A sua opinião relativamente ao IRA é uma das mais respeitadas no Reino Unido. Pensa que em Espanha devia ter-se em conta a opinião de peritos de outros países?
As opiniões formadas são úteis sempre e quando sejam rigorosas. O conhecimento rigoroso dos fenómenos terroristas exige tempo, especialização e experiência. Nem todas as pessoas que recebem a qualificação de “perito” o são na realidade. É necessário ter cuidado com aqueles que se apresentam como peritos mas que procuram apenas apoios para determinadas decisões políticas ou partidárias sem fundamentar as suas opiniões em análises rigorosas e cuidadas. Nestes dias têm sido publicadas em Espanha entrevistas com o dirigente unionista da Irlanda do Norte, David Trimble, nas quais se podiam aprender lições muito úteis. Trimble expunha os erros cometidos na Irlanda do Norte e recomendava ao governo espanhol que exigisse à ETA em primeiro lugar a entrega das armas.

É doutorado em Ciências da Comunicação. Considera acertada a forma com se trata o terrorismo na imprensa?
Tem sido prática comum para aqueles que perpetram actos de terrorismo recorrer à linguagem como objecto para construir formas de justificação para a sua violência, servindo-se para tal dos meios de comunicação e dos discursos políticos. Com esta finalidade não é estranho que termos como paz e diálogo sejam utilizados com grande profusão e com uma intencionalidade muito determinada, tornando-se por vezes contrários ao seu significado natural e constituindo-se com frequência em instrumentos de propaganda que são manipulados por organizações e dirigentes terroristas na procura dessa legitimidade da qual geralmente carecem. Os fenómenos terroristas nacionalistas que tiveram lugar na Irlanda do Norte e no País Basco oferecem mostras abundantes desta instrumentalização. Foram numerosos os esforços que o IRA, o principal grupo terrorista da Irlanda do Norte, e o seu braço político, o Sinn Féin, levaram a cabo com a intenção de desassociar-se da imagem negativa que a sua violência lhes conferia. Para tal, conceitos como a paz e o diálogo foram amplamente deturpados, sendo exemplar neste sentido o papel do líder mais importante da citada organização terrorista, Gerry Adams.

Porque considera Adams uma farsa?
Porque procura consolidar a imagem de homem que teria feito muitos esforços pela pátria, noção que toca profundamente muitos espanhóis que até desejam uma réplica para o âmbito basco. Mas Adams não é o artífice da paz na Irlanda, mas sim um hábil político e uma sensacional farsa. Uma amostra disso é que para muitas pessoas no nosso país é inquestionável a afirmação de Adams de que jamais foi membro do IRA. Que credibilidade têm as suas memórias quando é um facto irrefutável que Adams foi e continua a ser um dos máximos dirigentes do grupo terrorista? A admissão do seu activismo e de como chegou a ordenar assassinatos e porque deixou de sancioná-los resultaria sem dúvida muito mais esclarecedora para entender porque é que o IRA decretou o cessar-fogo, completamente ausente do seu livro. É que Adams procura um lugar na história que não lhe corresponde reproduzindo falsidades que em nada contribuem para a paz que diz querer alcançar. Seria mais louvável da sua parte se reconhecesse o seu profundo fracasso pessoal e político, já que é um facto que depois de trinta anos de terrorismo e de ter causado centenas de mortes, o IRA não conseguiu nenhum dos seus objectivos. Portanto, em vez de enfatizar e justificar a violência do IRA, como o faz Adams a toda a hora e nalguns meios de comunicação social, seria de maior utilidade para a paz reconhecer que o principal feito do IRA tenha sido o de polarizar a sociedade da Irlanda do Norte.


entrevista de Jordi Bascuñana

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