Sérgio Rebelo
“Podemos vir a ser um dos países
mais ricos do mundo.”
Qual o efeito das políticas
económicas sobre as taxas de crescimento económico?
É muito difícil isolar o efeito de cada instrumento
de política económica sobre a taxa de crescimento.
Mas sabemos que países que crescem seguem em geral
políticas fiscais responsáveis, têm uma
política monetária estável e um sistema
financeiro eficiente. São também países
que defendem os direitos de propriedade, tem um sector de
educação que funciona, e uma economia aberta
ao comércio internacional.
O que causa os ciclos económicos?
Os ciclos económicos são causados por vários
tipos de choques. No século XIX e princípios
do século XX a instabilidade no sector financeiro,
que levava a falências periódicas no sistema
bancário, foi uma fonte importante de flutuações
económicas. As variações no preço
do petróleo, o ritmo a que novas tecnologias são
introduzidas na economia, as mudanças no nível
de despesa pública e impostos e as variações
nas expectativas dos agentes económicos, são
outras fontes potenciais de flutuações económicas.
A política monetária, dependendo da forma como
é conduzida, pode contribuir para reduzir ou acentuar
a amplitude dos ciclos económicos.
O que leva às crises financeiras?
Os depósitos bancários são, em todo o
mundo, garantidos de forma implícita ou explícita
pelo governo. Isto dá um incentivo aos bancos para
assumirem riscos demasiado elevados porque sabem que, se os
seus investimentos correrem mal, o governo vai-se ver obrigado
a compensar os depositantes de forma a que estes não
percam dinheiro. A crise dos bancos de poupança nos
Estados Unidos nos anos 80 e as crises bancárias da
ásia nos anos 90 foram causadas por falhas de supervisão
bancária que permitiram aos bancos fazer investimentos
muito arriscados que acabaram por correr mal.
Qual o impacto real da revolução
digital sobre a produtividade?
Demora tempo até que os efeitos de uma revolução
tecnológica se façam sentir sobre a produtividade.
Os trabalhadores e empresas precisam de tempo para aprenderem
a tirar partido das novas tecnologias. Foi assim com a introdução
da electricidade nos Estados Unidos nos fins do século
XIX e princípios do século XX e o mesmo se passou
com a introdução dos computadores pessoais e
da internet. Mas ninguém duvida que os grandes aumentos
de productividade nos Estados Unidos que se registaram a partir
dos finais dos anos 90 se devem, em grande parte, à
revolução digital.
O que é uma recessão?
É uma situação em que a produção
e o nível de emprego caem. Nos Estados Unidos as datas
em que as recessões começam e acabam são
determinadas pelo National Bureau of Economic Research (NBER).
O NBER considera que uma recessão precisa de ter três
Ds: “depth” (profundidade, o nível de actividade
económica tem que cair significativamente), “duration”
(duração, o declínio na actividade económica
tem que durar mais que um trimestre), e “diffusion”
(difusão, a recessão tem que afectar a maioria
dos sectores económicos).
Conhecendo os actuais vectores
de orientação da política económica
portuguesa, quais os maiores riscos que Portugal enfrenta?
A economia Portuguesa tem um potencial extraordinário.
Fizemos progressos notáveis desde 1950 e podemos vir
a ser um dos países mais ricos do mundo. Portugal está
cheio de pessoas com talento e produtos com qualidade para
vingar no mercado mundial. Precisamos de libertar toda a criatividade
e potencial do nosso sector privado em vez de apostarmos na
despesa pública como motor do crescimento económico.
É importante continuar a diminuição do
peso burocrático do Estado sobre a actividade privada.
É preciso tornar a administração pública
mais eficiente para que se possam produzir melhores serviços
públicos com uma menor carga fiscal. O sistema legal
português, que é lento e ineficiente, precisa
de ser revisto. O mercado do emprego precisa de ser mais flexível
para que Portugal se possa adaptar bem às grandes transformações
estruturais que estão a acontecer na economia mundial.
E o nosso sistema educativo precisa de ser melhorado para
preparar trabalhadores que possam trabalhar em actividades
bem remuneradas e evitar a concorrência com o trabalho
não qualificado da China e de outros países
em vias de desenvolvimento. |