Valentí Massana
“Não existe nenhum tipo
de trabalho no mundo que te possa oferecer a satisfação
e as experiências que o desporto de elite dá.”
O que é um Sincroton?
São um tipo de instalações, várias
no mundo, construídas com a finalidade de produzir
um tipo de luz muito especial, que permite ver coisas que
não são perceptíveis à luz natural,
como o interior das coisas ou da estrutura das proteínas.
É como um microscópio muito grande formado por
um anel de imagens. É uma fábrica de luz que
serve para ver coisas muito pequenas, a nível atómico.
Que tipo de informação
se obtém com um Sincroton?
Serve para conhecer como se orientam os domínios magnéticos
dentro de um material a nível interno, como se desenvolve
uma proteína e ver todas as suas fases de fabricação;
também serve para obter informação molecular
sobre grandes estruturas biológicas, estudar o desenvolvimento
das contracturas musculares, etc.
Que tarefas desenvolve no Sincroton?
Sou técnico de medidas magnéticas e encarrego-me
de medir a força dos ímanes. Outro companheiro
encarrega-se depois de alinhá-los de forma conveniente
para que o fluxo de luz não se perca.
É certo que este tipo de instalações
são as mais modernas no mundo da Física?
Sim, e em Espanha é um dos projectos mais importantes
de toda a história científica, não só
pelo que se estudará aqui como também pelo volume
de negócios que moverá. A instalação
custará 185 milhões de euros e a sua manutenção
15 milhões anuais. Como físico é uma
autêntica honra e um privilégio trabalhar em
algo assim.
Sente saudades do desporto de elite?
Sim, sinto falta da competição e de estar em
forma, mais nada. A vida de desportista é muito sacrificada
e supõe pagar um preço social muito alto. Nos
últimos anos de desportista já me custava muito
levantar-me para ir treinar. Não tenho saudades do
treino duro diário, apenas do ambiente de alta competição.
No seu caso, o preço social
aumentaria pelo facto de estar a estudar um curso universitário?
Sim, para poder atender a todas as minhas obrigações
desportivas precisei de dez anos para passar um curso de cinco.
Era a única maneira de poder compatibilizar o lazer
com os estudos e consegui-o porque sempre tive um professor
particular. Além disso, a minha universidade tinha
um programa especial para desportistas de elite. Designavam-me
um tutor de prestígio para solucionar os problemas
que iam surgindo ao longo do curso, como quando coincidia
alguma competição com um exame. Também
tenho que agradecer ao centro de Alto Rendimento que me pagou
um professor particular durante todo o curso.
Se pudesse escolher, preferia um Nobel
em Física ou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos?
São coisas diferentes mas creio que no desporto os
méritos são mais claros. Se cortas a meta em
primeiro lugar ninguém pode duvidar da vitória.
Nos prémios Nobel conjugam-se decisões subjectivas
e interesses diversos. Além disso, penso que não
existe nenhum trabalho no mundo que
possa dar a satisfação e as experiências
que o desporto de elite oferece.
Conhece outros atletas com cursos científicos?
Não existem muitos casos. Um deles é Jonathan
Edwards, que detém o recorde mundial de triplo salto
e é físico; e outro é Edwin Moses, duplo
campeão olímpico dos 400 metros barreiras e
imbatível durante 122 provas seguidas, que é
engenheiro de campos nucleares.
entrevista de Jordi Bascuñana |