Alberto Proença
“A questão da detecção,
vigilância e combate aos fogos florestais é um
problema que aflige todo o planeta.”
Que dados disponibiliza a “Plataforma
Nacional para Integração de Serviços
Geo-Referenciados na Gestão de Fogos Florestais em
Tempo-Real”?
O projecto que agora foi alvo deste evento mediático
- o da entrega simbólica do prémio internacional
“IBM Shared University Research (SUR) 2005”, nas
instalações da Universidade do Minho - foi o
resultado de uma proposta apresentada em 2005 que tinha como
principal objectivo contribuir para o desenvolvimento de uma
plataforma de computação que permitisse, a nível
nacional e em cada um dos distritos operacionais, apoiar o
sistema de decisão dos comandos operacionais no combate
aos incêndios florestais. A questão da detecção,
vigilância e combate aos fogos florestais é um
problema que aflige todo o planeta, e para o qual as tecnologias
de informação e de comunicação
têm vindo a contribuir significativamente para o aumento
da rapidez e eficácia das equipas envolvidas nestas
operações de socorro.
A massificação actual da utilização
de imagens de satélite, do infra-vermelho ao espectro
visível, complementadas com um rico leque de camadas
adicionais de informação geo-referenciada, são
uma das partes mais visíveis das potencialidades que
estas tecnologias colocam à disposição
da comunidade. No caso concreto da protecção
das florestas, a informação adicional pertinente,
de carácter mais estático, inclui não
apenas as características topológicas dos terrenos
e a rede viária (e de caminhos florestais), como ainda
a ocupação dos solos (com indicação
das características dos cobertos vegetais, sua manutenção
e a ocorrência de acidentes no passado), e a localização
de núcleos populacionais e de pontos de acesso a água.
Mas numa situação de emergência, é
crucial a integração destes dados com o acesso
instantâneo a outros geo-referenciados mas que variam
mais dinamicamente: os dados de sensores meteorológicos,
como temperatura, vento e humidade, ou ainda a localização
precisa da área afectada por um dado incêndio
e dos meios de combate ao fogo, quer as viaturas terrestres,
quer o apoio aéreo. Adicionalmente, é pertinente
estimar a evolução/propagação
do incêndio face a este conjunto de dados, através
duma modelação e simulação fiável
e credível dos fogos florestais. Só esta tarefa
exige recursos computacionais intensivos, e existe já
trabalho a nível nacional e internacional na área
da exploração da computação paralela
em clusters de computação (com características
semelhantes ao do prémio da IBM), na execução
de algumas destas simulações.
Podemos então afirmar que a tecnologia que hoje existe
permite já a obtenção quase instantânea
de todos os dados indispensáveis a um comando operacional
para o pleno exercício das suas funções.
Então onde reside a inovação neste projecto?
Na maneira de obter os dados...
Como é que esses dados podem
ser acedidos pelos comandos operacionais?
Diversos Ministérios, Direcções Gerais,
Institutos e Universidades em Portugal são os detentores
destes dados e dos meios de os processar. Mas em cada um destes
organismos são utilizadas aplicações
informáticas, propriedade de consórcios internacionais,
cuja representação da informação
não segue normas internacionais que possibilitem a
re-utilização dessa informação
por outra plataforma computacional que não seja a disponibilizada
por esse fabricante ou consórcio. Para não falarmos
das questões de propriedade da informação
e do sigilo na sua divulgação, que poderá
dificultar o acesso à informação se os
intervenientes não sentirem que fazem parte de um projecto
integrador de maior alcance. Assumindo que conseguimos ultrapassar
estes entraves, os desafios da parte tecnológica são
os que nos levaram a propôr este projecto.
Faz parte do projecto fazer o levantamento e caracterizar
toda a informação que necessita de ser transmitida
entre aplicações, e garantir que (i) a informação
utiliza formatos normalizados de representação,
que (ii) as aplicações, que na maioria dos casos
foram desenvolvidas com o objectivo de poderem ser acedidas
e consultadas por pessoas através da Web, possam também
comunicar com outras aplicações a transmitir-lhes
o mesmo tipo de informação, e que (iii) existem
as condições para a execução das
aplicações de maneira integrada e coerente em
ambiente de computação em Grid.
Se conseguirmos cumprir estas exigências, então
é possível desenvolver uma aplicação
que faça a integração em tempo-real de
todos estes dados e os apresente, como serviço Web,
aos comandos operacionais.
Uma das situações ainda crítica reside
na informação geo-referenciada e na sua utilização
em ambientes partilhados. E é aí que surge o
OGC.
Quais as funções do OGC
(Open Geospatial Consortium)?
O OGC tem como objectivo promover o acesso aberto/livre à
informação geográfica que tenha sido
capturada e inserida em bases de dados, por fornecedores de
serviços ou utilizadores finais, na maioria dos casos
em formatos proprietários. O OGC desenvolve formatos
e protocolos para a troca normalizada de dados, de modo a
suportar o intercâmbio eficaz entre conjuntos de aplicações/serviços
que dependem de informação geográfica.
Num ambiente aberto, os serviços críticos deverão
poder ser criados com tempos de desenvolvimento curtos e baseados
na partilha de recursos. O comando de operações
de socorro no combate a incêndios florestais é
um exemplo típico de um serviço Web crítico,
que poderá tirar partido deste esforço do OGC.
O meu colega neste projecto, o Prof. Jorge Rocha, representa
Portugal no OGC, e uma das suas funções é
o desenvolvimento de experiências de inter-operabilidade
semântica, para teste de plataformas abertas no estudo
de casos. Tencionamos desenvolver estes testes para o combate
aos incêndios.
Quais as vantagens do JAVA e
da plataforma Eclipse no desenvolvimento do vosso projecto?
Um dos aspectos críticos do sucesso deste tipo de projecto
é a disponibilidade do seu interface em qualquer plataforma,
o que sugere de imediato a utilização de Java
como linguagem de excelência para essa função.
Mas por outro lado, quando se torna necessário desenvolver
certos componentes ou módulos de software, com objectivos
distintos - robustez com recurso a formalismos matemáticos,
ou eficiência em termos de execução -
as abordagens mais formais das linguagens funcionais ou a
maior eficiência de linguagens não interpretadas
podem ser opções mais sensatas. Assim, a selecção
de uma plataforma integrada de desenvolvimento de aplicações
(IDE) deve tomar em consideração vários
factores que incluem, entre outros, o ser livre e suportar
múltiplos sistemas operativos e múltiplas linguagens,
e o ter um historial positivo e com sucesso. E a plataforma
Eclipse, surgida na sequência da família de ferramentas
VisualAge da IBM (e ainda apoiada pela IBM) é um produto
de referência e de excelência que cumpre estes
requisitos e que faz com que a adoptemos no desenvolvimento
do projecto. Tanto mais que já a usamos nas aulas que
leccionamos... |