Rosa Branca Esteves
“A discriminação
de preços actua em benefício dos consumidores.”
Como é que a sofisticação
crescente das bases de dados afecta a acção
das empresas?
A sofisticação crescente das bases de dados
sobre os comportamentos dos consumidores em muitos mercados
tem permitido às empresas implementar formas de discriminação
de preços anteriormente inviáveis bem como adoptar
diferentes estratégias de publicidade para consumidores
que revelam histórias de compra distintas. Uma forma
especialmente importante de discriminação de
preços na era da economia digital consiste na selecção
de preços distintos para clientes que no passado escolheram
o produto de empresas rivais. Com o objectivo de tentar captar
clientes de empresas concorrentes, as empresas podem estar
interessadas em oferecer a estes consumidores melhores condições
que aquelas que oferecem aos seus clientes actuais. Esta forma
recente de discriminação de preços, designada
na literatura económica como “behaviour-based
price discrimination”, tem vindo a ser implementada
de forma crescente em muitos mercados oligopolistas (e.g.
telecomunicações, banca, cartões de crédito,
mercados de subscrição, e especialmente em mercados
electrónicos).
Considera anti-compeitiva a discriminação
de preços implementada com base em bases de dados?
Embora exista uma certa tendência para considerar a
discriminação de preços como uma política
de preços “injusta” e anti-competitiva
é importante referir que há casos em que esta
prática intensifica a concorrência nos mercados
nos quais é implementada actuando portanto em benefício
dos consumidores.
Por exemplo, no caso da discriminação de preços
com base no comportamento passado dos consumidores, verifica-se
que quando todas as empresas no mercado adoptam a mesma estratégia,
a discriminação de preços tende a reduzir
os preços para todos os consumidores, resultando num
incremento do excedente do consumidor á custa de menores
lucros. Neste contexto, proibir a prática de discriminação
de preços actuaria em favor de lucros mais elevados
em detrimento do bem estar dos consumidores.
Contudo, é importante excluir a possibilidade de comportamentos
oclusivos. Mais, em mercados em que uma ou mais empresas têm
uma posição dominante é necessário
averiguar se a discriminação de preços
dá ou não origem a exclusão e/ou a barreiras
à entrada de outras empresas.
Quem beneficia mais da discriminação
de preços: as firmas ou os consumidores?
A resposta a esta questão não é fácil
uma vez que quem ganha e quem perde depende de muitos factores
como da estrutura de mercado e das características
da procura; da informação e instrumentos ao
dispor das empresas e do próprio comportamento dos
consumidores no mercado.
Que aplicações tem a
teoria de jogos na economia?
A teoria de jogos é um meio formal de se estudar a
interacção entre agentes racionais que se comportam
de forma estratégica (isto é, que têm
em consideração que as suas decisões
afectam o comportamento dos outros agentes e vice-versa).
Desta forma, qualquer problema de decisão que cumpra
estes requisitos pode ser estudado pela teoria de jogos. A
título de exemplo, aplicações da teoria
de jogos podem ser encontradas em diversas áreas da
economia como na organização industrial, na
economia do trabalho, no comércio internacional, na
macroeconomia e na economia pública. |