Asunción Santamaría
“A casa aprende com os seus moradores.”
O projecto que dirige foi seleccionado
pela segunda edição consecutiva para o certame
internacional Solar Decathlon. Qual é a chave para
este êxito?
Na edição de 2005 inscrevemo-nos, e das 20 universidades
seleccionadas para este ano apenas 10 repetiram em 2007. A
chave está no facto que a nossa proposta agradou a
muitas pessoas. Conseguimos um nono lugar, uma classificação
pior da que esperávamos pela diferença das perspectivas
entre a cultura americana e a nossa proposta. Para a edição
2007 queremos seguir uma linha de continuação
em relação ao que já apresentámos
em 2005 com novas tecnologias.
As casas com tecnologias domóticas
encontravam até agora uma barreira importante: necessitavam
de uma grande interacção com o utilizador. Que
novidade traz este projecto?
O uso da domótica requeria até agora a intervenção
do utilizador, o que produzia uma ampla rejeição
por parte das pessoas, porque muitas não sabem nem
sequer programar o vídeo para gravar um filme. Programar
uma casa é muito mais complicado. Portanto, o nosso
plano é criar sistemas que aprendam os hábitos
das pessoas e que se auto-programem para gerir a casa. Claro
que o utilizador pode, se quiser, aceder ao sistema de uma
forma manual. Se, por exemplo, souber que existem crianças
em casa, gravará os filmes de desenhos animados do
Cartoon Networks. A casa aprende com os seus moradores.
A maioria dos promotores considera
que não existe grande procura de casas bioclimáticas.
Que pensa sobre isso?
Neste momento os promotores não precisam de dar nenhum
valor acrescentado às casas para vendê-las e,
contudo, as pessoas estão cada vez mais preocupadas
com a crise energética, o que está a provocar
o aparecimento no mercado de casas bioclimáticas e
de arquitectura sustentada. Uma das formas de paliar a crise
do petróleo é controlando o consumo por duas
vias: mediante uma arquitectura sustentada e dotando as casas
de um sistema de gestão energético que permita
optimizar o consumo.
Entre os dispositivos de poupança
de energia que propõem estão os LEDs (diodos
emissores de luz). Que vantagens e inconvenientes têm
em relação às lâmpadas?
Dentro de 10 anos os LEDs estarão no grande mercado.
Actualmente, já se utilizam nos painéis de sinalização
das auto-estradas e nalguns semáforos. Desenvolveu-se
suficientemente a tecnologia para que possam iluminar. A principal
vantagem face a um sistema de iluminação convencional,
como o halogéneo, um tubo fluorescente ou uma lâmpada,
é que o LED é praticamente eterno, podendo durar
toda uma vida.
Além disso, o consumo é muito menor e o rendimento
em relação ao que se gasta e à iluminação
que se consegue é muito melhor com um LED do que com
uma lâmpada. Até agora não conseguiram
uma grande penetração no mercado espanhol por
interesse das companhias que fabricam os dispositivos convencionais,
mas nos Estados Unidos já se comercializam a grande
escala, porque são muito baratos. Têm melhor
rendimento que uma lâmpada ou um halogéneo, ainda
que até agora não tenham o mesmo rendimento
das lâmpadas fluorescentes. Isto acontece porque é
uma tecnologia que ainda não alcançou o seu
máximo desenvolvimento. Dentro de 5 ou 10 anos estaremos
a falar provavelmente de um rendimento 50% melhor do que agora.
No projecto da casa bioclimática
encontram-se os sistemas de controlo de acesso ao lar e comandos
de voz. Em que consistem?
Os comandos de voz permitem a interacção entre
o sistema domótico da casa e os seus moradores. Por
exemplo, podes ditar à tua casa a lista de compras.
Os lares bioclimáticos inteligentes são muito
úteis para pessoas idosas e que sofrem de incapacidade
porque o interface do utilizador é mais simples. Se
um idoso estiver sozinho e sentir-se mal pode dizer ao sistema
“chama um medico” e este aparece na televisão,
podendo entrar em conversação.
O controlo de acesso refere-se a sistemas de vídeovigilância.
Pode detectar intrusos em casa ou monitorizar também
a localização de cada paciente num hospital.
Nós trabalhamos em dispositivos para ambientes de alta
segurança por identificação de parâmetros
biométricos, como a íris dos olhos, para detectar
pessoas.
Acredita que as casas do futuro incorporarão
alguns dispositivos que utilizam ou isso é “ficção
científica”?
Acredito que sim. Especialmente os que estão relacionados
com o sistema de controlo energético. A médio
prazo existirá uma procura de construções
sustentáveis com sistemas arquitectónicos bioclimáticos
que reduzam o consumo energético.
Por último, todos estes avanços,
trazidos para a nossa vida quotidiana, em que medida nos afectam
num plano imediato?
Por exemplo, a implantação de sistemas de iluminação
de LEDs é imparável. Dentro de 5 ou 10 anos
desaparecerão as luzes fluorescentes e as lâmpadas.
Em relação aos outros sistemas de controlo energético
acredito que em dez anos começarão a funcionar.
entrevista de Javier Fernaud Quintana |