Qual a função
da progesterona na mulher?
A progesterona é uma hormona sexual esteróide
que tem uma relevância enorme durante a fase reprodutiva
da vida da mulher. Esta hormona aumenta muito na segunda
fase do ciclo menstrual, favorecendo a nidação
do embrião no caso de gravidez. No entanto, o
papel desta hormona não está completamente
estudado, parecendo estar também relacionado
com a homeostasia tecidular, controlando/estabilizando
o crescimento celular.
No caso de gravidez, a progesterona mantém-se
elevada até ao fim da gestação
desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento
da mesma.
Como pode ser inibida a produção
de progesterona?
A progesterona é essencial para o organismo,
por isso não deve ser inibida. No entanto, existem
já inibidores da acção da progesterona,
que são utilizados em certas condições
patológicas. Por exemplo, os resultados mais
recentes no cancro da mama sugerem que esta hormona
pode ter efeitos nefastos na progressão deste
tipo de neoplasia. O que o nosso grupo está a
estudar é exactamente a via de sinalização
que é activada pela progesterona em células
de cancro da mama. Bloqueando não a produção
de progesterona, mas um dos componentes que se encontra
nesta via levará, em princípio, à
inibição dos efeitos da hormona nestas
células.
Contesta o recurso à quimioterapia no
tratamento do cancro da mama?
Não. Por enquanto continua a ser, para além
da cirurgia, uma das estratégias terapêuticas
mais adequadas. Apesar disso, continuamos à procura
de novas formas de tratamento para o cancro. A terapia
hormonal adjuvante é uma delas. Outra, que também
procuramos neste estudo, é o bloqueio da formação
de vasos sanguíneos, i e, a chamada terapia anti-angiogénica.
Esta terapia tem como alvo os vasos sanguíneos
que "alimentam" o tumor, destruindo-os. A
utilização de várias frentes de
combate (atacando quer as células tumorais quer
outras células existentes no ambiente onde tumor
se encontra) parece ser mais eficaz.
Já estão a ser desenvolvidos
fármacos que apoiem a vossa descoberta?
O nosso estudo é ainda muito preliminar. Foi
feito só em culturas de células, ou seja,
in vitro. Um dos próximos passos será
passar a estudar este mecanismo em modelos animais (ratinhos)
e só depois se poderá pensar em desenvolver
fármacos para utilização clínica.
No entanto, nestes resultados iniciais, descobrimos
que um dos factores aumentados pela progesterona é
o factor de crescimento derivado das plaquetas (PDGF,
platelet-derived growth factor). Existem já fármacos
que utilizam esta via do PDGF como alvo. É o
caso do Imatinib, um fármaco utilizado noutros
tipos de neoplasias. Uma das alunas de mestrado do nosso
laboratório está a estudar o efeito deste
fármaco em células de carcinoma mamário
humano tendo já obtido alguns resultados (preliminares)
promissores.
Que cuidados devem ter as mulheres no uso de
contraceptivos com progesterona?
Todos os nossos resultados se referem ao cancro. A única
coisa que podemos dizer é que a progesterona
parece ter um papel importante na progressão
de cancro da mama hormono-dependente. Por isso, toda
a investigação que permita esclarecer
os mecanismos envolvidos nos efeitos desta hormona levará
a uma melhor avaliação do risco e, portanto,
a um uso mais seguro da mesma, quer nos contraceptivos
quer noutras indicações.
Biografia
Licenciada em Bioquímica pela Universidade do
Porto.
Mestrado em Oncobiologia pela Faculdade de Medicina
da UP.
Doutoramento em Biologia Humana pela Faculdade de Medicina
da UP
Professora e investigadora no serviço de Bioquímica
da Faculdade de Medicina da UP.
Grande parte da sua actividade científica
baseia-se no estudo da angiogénese (formação
de vasos sanguíneos), tendo como modelo inicial
o cancro.
Actualmente este estudo foi alargado para outro tipo
de situações, tais como o papel da angiogénese
na regeneração óssea, em doenças
oculares e na obesidade. Outro dos assuntos que estuda
é a modulação da angiogénese
por compostos polifenólicos provenientes da dieta.
Publicou, juntamente com Susana
Guerreiro, do Departamento de Bioquímica da Faculdade
de Medicina da UP, e Mónica Botelho, do Instituto
de Patologia e Imunologia Molecular da mesma universidade
(IPATIMUP), na edição electrónica
da revista norte-americana Journal of Cellular Biochemistry,
um estudo no qual concluem que a hormona sexual feminina
progesterona parece contribuir para a progressão
do cancro da mama por estimular a sua irrigação,
através da formação de novos vasos.
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