Que novo tipo de
interacção da luz com a matéria
sugere?
Não se trata realmente de um novo tipo de interacção
da luz com a matéria, mas antes de uma forma
algo bizarra dessa interacção. Tanto quanto
sabemos, nunca antes tinha sido detectada a presença
de moléculas quirais (no nosso caso hélices
que enrolam para a direita ou para a esquerdas) iluminando
sólidos com luz não polarizada (e na ausência
de campos magnéticos) e estudando a luz que estes
emitem (fotoluminescência). Isto só é
possível porque as hélices fazem parte
de agregados mais complexos que incluem várias
hélices: estes agregados interactuam de forma
diferente com a luz o que, indirectamente, testemunha
a presença de hélices direitas e esquerdas.
A vossa descoberta do novo material
microporoso contraria Pasteur?
Felizmente não (para nós)!
Esta foi uma descoberta da Física ou da Química?
Trata-se de um trabalho na fronteira entre a Química
e Física, onde estas divisões clássicas
não fazem sentido. Se quisermos ser redutores,
podemos dizer que a síntese dos materiais é
a mais nobre arte do químico. A caracterização
da estrutura dos sólidos (por difracção
de raios-X, ressonância magnética nuclear,
etc.) é feita por métodos físicos
mas que normalmente integram o arsenal dos químicos.
As propriedades de fotoluminescência são
frequentemente estudadas por físicos, apesar
de se conhecerem neste domínio alguns químicos-físicos
eminentes.
O que é um zeólito?
Os zeólitos convencionais são edifícios
moleculares com estrutura rígida feita de alumínio,
silício e oxigénio, possuindo microporosidade,
isto é, corredores com uma secção
em geral inferior a 1 nm e câmaras onde residem
moléculas de água e iões como o
sódio e o potássio. Os zeólitos
são usados para separar moléculas de dimensões
diferentes, funcionando como peneiros moleculares, e
para remover iões metálicos presentes
em águas (por exemplo Ca2+, Mg2+, no caso dos
detergentes) trocando-os por outros mais convenientes
(Na+...). São, ainda, utilizados como catalisadores
heterogéneos, nomeadamente na indústria
petroquímica.
No puzzle do conhecimento
científico cabe sempre mais uma peça?
A Ciência é uma aventura e uma constante
caça ao tesouro, que se inicia com um indecifrável
mapa do tesouro de um velho marinheiro maneta. O mapa
leva-nos de mar em mar, de ilha em ilha, de montanha
em montanha, até locais recônditos onde
outros personagens misteriosos nos oferecem novos mapas,
que quase nunca nos revelam o destino final. Mas pelo
caminho, descobrimos plantas, animais e gentes exóticas
e paisagens deslumbrantes, que damos a conhecer ao Mundo
e que às vezes o tornam um lugar melhor para
viver. O prazer do cientista é a viagem.
Biografia
Nascido em 1962, é membro do Departamento de
Química da Universidade de Aveiro desde 1985
(Assistente Estagiário).
Em 1988 partiu para Inglaterra onde se doutorou em 1990
no Department of Chemistry, Cambridge University, com
uma dissertação sobre Ressonância
Magnética Nuclear (RMN) do Estado Sólido
de caulinite e materiais relacionados, sob a orientação
do Prof. Jacek Klinowski. Durante cerca de 1 ano permaneceu
neste Departamento e grupo como pós-doutorando,
desenvolvendo estudos de RMN de sólidos de materiais
zeolíticos. Em meados de 1991 regressou ao Departamento
de Química da Universidade de Aveiro, onde tem
permanecido. Em 1999 foi promovido a Professor Catedrático
de Química Inorgânica.
Presentemente, é Director
do Laboratório Associado "Centro de Investigação
em Materiais Cerâmicos e Compósitos".
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