Quais as características
da geologia lunar?
Há dois tipos de terrenos predominantes: as “Terras
Altas” (a crosta esbranquiçada quando olhamos
para a Lua), muito antigas, da ordem dos 4500 Ma (milhões
de anos) [4.5 Ga] e muito craterizadas, e os “Maria”
(mares), mais jovens (da ordem dos 3800 Ma a 2800 Ma
[3.8 -2.8 Ga] ou ainda mais novos), que correspondem
a enormes escoadas de lavas basálticas no interior
de grandes crateras de impacto (bacias). Note-se que
as rochas terrestres com mais de 3.0 Ga são muito
raras, pelo que a Lua nos dá informações
preciosas sobre a história geológica do
Sistema Solar.
Os maria são quase inexistentes no lado escondido
da Lua. Isto deve-se provavelmente ao efeito gravitacional
da Terra e à espessura da crosta no lado escondido
da Lua ser superior ao lado visível o que fez
do lado próximo da Lua a localização
preferencial para as erupções vulcânicas.
Tal como na Terra, a estrutura interna da Lua não
é uniforme.
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Modelo
da estrutura interna da Lua. C. Hamilton
Crosta (0-100 km)
Manto (sólido, 1000 km)
Núcleo (metálico, 680 km, 2 km descentrado) |
A crosta, de composição essencialmente
anortosítica (o esbranquiçado que vemos
da Terra), pode ter espessuras entre cerca de 107 km,
a norte da cratera Korolev no lado escondido, até
ser quase inexistente sob o Mare Crisium.
Segue-se o manto que, ao contrário do da Terra,
é quase completamente sólido e possivelmente
com uma espessura máxima de 1000km, e um possível
núcleo metálico, com cerca de 680 km de
diâmetro (ainda não se sabe ao certo se
há ou não um núcleo e se houver,
se é sólido ou líquido).
Com os dados que dispomos, que tipo de vida podemos
prever em Marte?
Não sei responder a esta pergunta! Apenas pelo
que tenho lido, será uma vida mais semelhante
àquela que temos na Terra em locais de condições
extremas, como é o caso de desertos quentes,
ou no caso dos pólos, algo semelhante àquilo
que poderá viver no interior da Antártida,
tipo no lago Vostok.
Como se distingue um meteorito de Marte de
outro qualquer?
Em geral, para a determinação da proveniência
de um meteorito, o mesmo é submetido a vários
testes analíticos, como a composição
química e isotópica por diferentes laboratórios
do Mundo. Uma vez adquiridos os dados, eles são
comparados com outros dados já existentes de
outros meteoritos, e no caso dos meteoritos lunares,
com rochas trazidas pelas missões Apollo e Luna,
e um comité decide que tipo de meteorito é.
Um meteorito marciano é normalmente composto
pelos minerais piroxena, olivina e maskelinite. A composição
isotópica de gases raros nos meteoritos marcianos
é semelhante aquela analisada pelas sondas Viking
que visitaram a superfície marciana nos anos
70.
Em que consiste o D-CIXS?
O instrumento D-CIXS serviu como uma demonstração
de nova tecnologia para detectar raios-x reflectidos
pela Lua, a bordo da missão da ESA, SMART-1.
Em breve, voará numa missão Indiana Chandryaan-1
(http://www.chandrayaan-1.com),
uma versão melhorada deste instrumento, C1XS.
O painel frontal deste instrumento consiste em vários
detectores de raios-X do tipo "swept charge devices"
(SCD's). Para monitorizar o comportamento do Sol, o
C1XS é acompanhado por um instrumento (XSM) que
estuda a mudança no fluxo de raios-x emitidos
pelo Sol. (http://www.sstd.rl.ac.uk/SMART-1/Index.htm)
O principio deste instrumento é: a superfície
da Lua é iluminada pelo Sol, e parte do tipo
de radiação emitida pelo Sol tem o comprimento
de onda raios-X.
Os raios-x uma vez que atingem a superfície lunar
são reflectidos consoante a composição
química da região a ser observada. Cada
elemento emite raio-x com energias únicas o que
permite a determinação da composição
química.
Como está a decorrer o projecto espacial
Indiano?
Bem....e acho fantástico que um pais como a Índia
esteja a apostar no espaço não só
de um ponto de vista tecnológico mas também
científico. Recordemos, que se pensa sempre na
Índia como um pais do terceiro-mundo e possivelmente
com pouco recursos. Mas a sua população
está a empenhar-se em modernizar-se e correr
riscos em nome da ciência. Seria bom que Portugal
fosse tão atrevido!
Os únicos pontos negros da Antártida,
são os meteoritos?
Não, também pode haver rochas terrestres,
pois a Antárctica é um continente como
outro qualquer, e certos locais de procura de meteoritos
são vales ladeados de rochas. Ou podem ser passas
que se deixam cair enquanto se percorre nos “skidoos”
as vastas extensões de gelo! :--)
O que corre mal na política de atribuição
de subsídios para a Ciência em Portugal?
A falta de divulgação é um grande
problema em Portugal a todos os níveis, não
só a nível governamental mas também
dentro das instituições académicas.
Deveria haver simplificação de informação
(o dizer-se às pessoas para lerem o Diário
da República é não só desmoralizante,
como nem toda a gente tem acesso fácil ao mesmo,
ou nem toda a gente é formada em Direito para
poder interpretar correctamente o mesmo). Penso que
é uma herança da ditadura o manter a população
ignorante, assim como a demonstração de
preguiça por parte das entidades responsáveis
em se “darem ao trabalho" de simplificarem
ou fazerem "check-lists" da informação
essencial a ser dada, mas também da documentação
necessária para se concorrer a subsídios.
Seria óptimo que o MCTES/FCT tivesse a iniciativa
de promover workshops onde se poderia aprender como
melhor concorrer/prencher os formulários europeus.
Ou mesmo ter mais pessoas no GRICES ou FCT a ajudar
os interessados a concorrerem aos diferentes programas
Europeus. Este tipo de iniciativas existem no Reino
Unido....por isso é que possivelmente há
mais investigadores lá com fundos Europeus doque
em Portugal....é tudo uma questão de estratégia
Nacional. Portugal deve ser o Pais (ou um dos países)
da UE que concorre menos a fundos devido aos factores
acima mencionados.
Penso também que o modo como o MCT/FCT tem decidido
dividir os fundos é apenas pó para os
olhos e dizerem que estão a dar muitas bolsas.
No entanto os valores dados não permitem estabelecer
seja o que for em termos laboratoriais. Possivelmente
para sociologia e economia sejam valores razoáveis,
mas não o são para ciências que
necessitam de instrumentação de custo
elevado para obterem dados.
Preparo neste momento um documento para envio a diferentes
entidades onde falo sobre os problemas, MAS também
sugiro alternativas de pensamento.
O que lhe inspira a Lua?
...A sua beleza...e a sua presença na vida da
Terra!
Para além de cientificamente, e a partir da Lua
(amostras), se poder entender muito dos primórdios
da Terra pois a Lua preserva muita história do
Sistema Solar que foi apagada da Terra devido ao tectonismo.
Biografia
Doutorada em Geologia Lunar Isotópica pela Universidade
de Manchester. Co-Investigadora do instrumento D-CIXS
a bordo da sonda SMART-1 da Agência Espacial Europeia
que esteve até há pouco tempo a orbitar
a Lua. No projecto MAGIC trabalha os dados recolhidos
pelo instrumento OMEGA da Mars Express, para determinar
composições químicas e mineralógicas
da superfície de Marte.
Em finais de 2004 foi a primeira cientista portuguesa
a participar numa missão na Antártida,
como membro da expedição Antartic
Search for Meteorites que recolhe anualmente meteoritos
no planalto Antártico para estudo pela comunidade
científica internacional.
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