O que se passa
no interior de uma estrela?
Uma estrela é uma esfera de gás que está
sujeita ao seu próprio peso.
Assim a vida da estrela é uma sequência
de tentativas (algumas com sucesso mas outras não)
de impedir que o seu peso a destrua.
Neste processo uma estrela como o nosso Sol consegue
encontrar uma fase muito longa de equilíbrio
que resulta da capacidade da estrela usar as reacções
de produção de energia por fusão
nuclear do Hidrogénio para produzir a energia
que lhe permite compensar o efeito do seu peso.
Assim no seu interior a estrela é apenas um gás
extremamente quente tendo uma região central
(núcleo) onde produz energia por fusão
nuclear enquanto que o resto da estrela tem uma estratificação
que é determinada pela forma como se transporta
a energia até à superfície onde
acaba por ser libertada. É esta energia, na forma
de luminosidade que torna as estrelas visíveis
à distância.
Como gasta energia a estrela "envelhece",
logo todas as estrelas tem um início, uma juventude
(intempestiva), uma idade adulta, uma velhice e um fim.
Assim ao longo da sua vida o interior da estrela vai
mudando (por vezes de uma forma drástica) adaptando-se
como pode ao efeito da força inevitável
que é o seu peso.
Há consenso sobre como
se formou o sistema solar?
Há consenso nos aspectos gerais de como um sistema
planetário se forma em torno da estrela jovem.
Nesse sentido o cenário que a Astronomia tem
para o nosso sistema solar é uma boa descrição
de como se pode chegar da nuvem inicial até à
estrela com o seu sistema planetário, (como no
caso do sol). No entanto há vários aspectos
ao longo deste processo bem como as escalas de tempo
envolvidas, que ainda não estão completamente
esclarecidos. O facto de se estarem a descobrir novos
sistemas planetários em outras estrelas tem levantado
novas perguntas que obrigam a comunidade a rever a visão
existente do processo de formação do nosso
próprio sistema, melhorando-o. Desta forma tem
sido possível abrir novas vias que ajudam a melhorar
a nossa visão de como se pode ter formado o nosso
próprio sistema planetário.
Que desafios levanta a detecção
de planetas rochosos?
A detecção de planetas rochosos é
extremamente difícil devido ao facto de estes
serem mais pequenos (em tamanho e em massa). Por esse
motivo os métodos que hoje se usam para detectar
planetas em torno de outras estrelas detectam predominantemente
planetas de maior massa (e gasosos). A forma de contornar
esta dificuldade está na construção
de instrumentos mais precisos e em encontrar novas assinaturas
nas observações que nos permitam identificar
a existência de planetas rochosos.
A possibilidade de detectar e estudar planetas rochosos
muito semelhantes à nossa Terra abre naturalmente
toda uma série de possibilidades científicas
que estão a mobilizar a comunidade científica
(e o público).
Qual a "consistência"
de um planeta gasoso?
Sendo gasoso não podemos falar de uma superfície
onde se possa caminhar! Assim num planeta gasoso apenas
podemos "voar". Um exemplo no nosso sistema
planetário é Júpiter que terá
apenas um núcleo sólido. A restante massa
deste planeta é gás. Claro que a possibilidade
de um planeta gasoso sustentar vida como a que encontramos
na Terra é diminuta, daí o interesse da
comunidade em tentar encontrar planetas rochosos.
Como recolhe informações
a astro-sismologia e a hélio-sismologia?
Na sismologia usamos a propagação de ondas
(sismos) para inferir as características da zona
que essas ondas atravessam. Esta é a nossa janela
para o interior que de outra forma seria inacessível.
Numa estrela - porque é feita de gás -
as ondas a observar são ou acústicas (ondas
sonoras que se propagam num gás) ou de gravidade
(como as ondas no mar). Logo as observações
de sismologia estelar consistem na detecção
de variações periódicas (por vezes
muito pequenas) da temperatura (fotometria) ou da velocidade
(espectroscopia) à superfície da estrela.
Com as frequências que são medidas, e que
dependem da estrutura da estrela onde as ondas se propagam,
recorremos às técnicas de inversão
para determinar como é o interior da estrela,
melhorando desta forma o que sabemos sobre as estrelas
e sobre o seu funcionamento.
Qual o envolvimento português
no CoRoT?
Um grupo de investigadores portugueses do Centro de
Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) integra
esta missão por nomeação da Agência
Espacial Europeia (ESA). A função que
a equipa portuguesa se propôs fazer para ser aceite
foi a de coordenar um grupo de trabalho internacional
para o desenvolvimento das ferramentas numéricas
que nos permitem modelar a evolução das
estrelas e determinar as suas características
sísmicas. Estas ferramentas são fundamentais
para podermos interpretar os dados que o satélite
CoRoT nos está a enviar. O grupo de trabalho
(denominado ESTA - ver http://www.astro.up.pt/corot/)
iniciou a sua actividade em 2002, contanto com mais
de 30 cientistas de vários países europeus.
Biografia
Licenciou-se em Astronomia pela Universidade do Porto
em 1989, tem o M.Sc. em Astrofísica pelo Queen
Mary & Westfield College da Universidade de Londres
(R.U.), obtido em 1990; e obteve o Ph.D. também
pelo Queen Mary & Westfield College da Universidade
de Londres (R.U.), em 1996 (com equivalência ao
grau de Doutor em Astronomia pela Universidade do Porto,
em 1996).
É actualmente Professor Associado (2004-) no
Departamento de Matemática Aplicada, da Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto. Tendo sido
anteriormente, no mesmo Departamento, Assistente (1990-1996)
e Professor Auxiliar (1996-2004).
Coordena o grupo de investigação em Sismologia
Estelar no Centro de Astrofisica, que se integra
nas actividades de investigação do grupo
de Astrofisica Estelar. Os interesses actuais a nível
de investigação centram-se no estudo da
estrutura interna e evolução de estrelas
do tipo solar usando sismologia estelar. Em particular,
no estudo das propriedades da convecção
e overshoot convectivo no Sol e estrelas semelhantes,
e na determinação sísmica dos parâmetros
estelares fundamentais para o estudo da evolução
de estrelas desde a pré-sequência principal
até estados mais avançados da sua evolução.
Foi Presidente da Sociedade
Portuguesa de Astronomia (de 2000 até
2003), e está envolvido na preparação
das missões espaciais, da ESA de sismologia estelar.
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