Qual é o peso da eficiência
no actual paradigma energético?
O peso da eficiência no actual paradigma energético
é ainda pouco significativo. Desde o primeiro
choque petrolífero em 1973 que se fala na necessidade
de aumentar a eficiência energética mas
assim que o preço do petróleo voltou a
descer as apostas então feitas nas energias renováveis
e na eficiência voltaram praticamente ao grau
zero.
O que subsistiu dessa época e influenciou o paradigma
energético foi a política do Presidente
Nixon de criar e definir “standards” para
a indústria automóvel exigindo padrões
de maior eficiência na utilização
dos combustíveis. Essa é a base da “CAFE”
– “Corporate Average Fuel Efficiency”
- que regula a actividade do sector automóvel
nos EUA e contribuiu para melhorar a eficiência
no uso dos combustíveis. Dessa forma um automóvel
utiliza hoje cerca de metade do combustível que
utilizava na década de 1970 para percorrer a
mesma distância. Mas o grande problema é
que apesar da crise energética actual a “CAFE”
não foi melhorada, há muitos anos que
os “standards” para os automóveis
nos EUA não são alterados e há
uma resistência dos políticos em falar
claro aos consumidores e dizer-lhes que têm de
mudar os seus hábitos.
No que diz respeito à Europa e a Portugal de
vez em quando volta em força a retórica
da “eficiência energética”
mas com magros resultados. Portugal tem uma factura
energética que em 2006 chegou aos 6.5 mil milhões
de Euros revelando um crescimento astronómico
nos últimos anos. Se for implementado um programa
sério de eficiência energética que
mobilize o país podemos reduzir a nossa factura
energética em cerca de 20% , aplicando medidas
que visem a racionalização do uso da energia,
a luta contra o desperdício, a utilização
de lâmpadas fluorescentes e não incandescentes,
a melhor gestão dos edifícios que são
cerca de 3.5 milhões em Portugal, a utilização
de equipamentos domésticos que tenham um desempenho
energético mais eficaz. Mas o que se passa é
que muitas vezes estas medidas não passam do
papel.
Então o que é que é necessário
fazer?
- Assumir publicamente as metas e os objectivos a alcançar;
- Mobilizar os cidadãos porque sem eles não
se consegue materializar nenhum programa;
- Criar um sistema de monitorização para
avaliar o impacto prático das medidas e ajustá-las
às necessidades;
- Orientar os programas e adaptá-los aos diferentes
sectores da economia sem esquecer a acção
das famílias e dos consumidores domésticos,
que é vital;
- Criar publicidade apelativa e orientá-la para
os diferentes alvos nos canais de comunicação
social.
O programa recente lançado pela ERSE com a colaboração
de empresas como a EDP e a ENDESA pode ser um ponto
de partida mas é preciso persistência,
tenacidade e mobilização dos cidadãos.
Quais os principais desafios ao cumprimento
da directiva para as energias renováveis?
Portugal nos últimos anos tem feito avanços
importantes na área das energias renováveis.
O caso da energia eólica é paradigmático
e hoje Portugal é um país que está
no pelotão da frente na utilização
desta energia na Europa.
Mas isto é ainda pouco: é preciso fazer
o mesmo na utilização da energia solar,
quer a fotovoltaica para a produção de
electricidade, quer a térmica para o aquecimento
da água. Com as condições que Portugal
tem é inadmissível que continue muito
atrás da Alemanha e Áustria, países
que não têm as condições
óptimas de exposição solar de Portugal.
O mesmo se passa relativamente à energia das
ondas embora Portugal tenha já lançado
um grande projecto como o que existe ao largo da Póvoa
do Varzim. Também nada de significativo está
feito ao nível da Biomassa e, tendo em conta
que o país tem mais de 35% do seu solo coberto
por floresta, é muito importante que a utilização
da Biomassa não seja descurada. Nós vivemos
numa sociedade que transforma recursos em lixo a um
ritmo frenético e isto não é sustentável
para o futuro. Temos de inverter a tendência e
há que aproveitar os detritos da agricultura
e das florestas e os resíduos urbanos para transformar
lixo em recursos. Por isso um programa nacional para
a Biomassa que crie condições para disseminar
projectos vencedores, capazes de animar a vida económica
no interior do país, criar emprego, fixar as
populações e contribuir para um balanço
energético mais saudável, é imperativo.
Os principais desafios a vencer são económicos
e relacionam-se com o custo de produção
de algumas destas energias, a necessidade de as tornar
competitivas depois de uma fase inicial de apoio (o
processo de “feed-in”), a integração
na rede de distribuição existente, a receptividade
dos “players” tradicionais e do mercado
em geral, a assumpção da sua importância
estratégica por parte dos poderes públicos
pois a diversificação das fontes de energia
e a aposta nos recursos endógenos é um
meio importante para aumentar a segurança energética
e diminuir a dependência do exterior. É
também importante simplificar a atribuição
das licenças, aumentar a operacionalidade e a
capacidade de resposta dos poderes públicos e
evitar as monstruosidades burocráticas que continuam
em Portugal a asfixiar muitos projectos interessantes.
Qual é o interesse estratégico
de Sines no futuro das reservas de gás natural?
Sines tem grande interesse estratégico para Portugal
e também para a Europa. Em 1º lugar significa
uma opção diferente para recepcionar gás
para o país através da via marítima
o que diminui a vulnerabilidade do país ao nível
do abastecimento pois diminui a dependência relativamente
ao pipeline da Argélia e do Magrebe. Hoje em
dia um país será tanto mais independente
do ponto de vista energético quanto mais alternativas
de abastecimento possua e que estejam aptas a funcionar
para colmatar possíveis rupturas que ocorram.
Não podemos esquecer que a Argélia é
um fornecedor fiável mas é um país
que tem alguma instabilidade política interna
que se arrasta desde que a FIS (“Frente Islâmica
de Salvação”) ganhou as eleições
e a seguir houve uma intervenção militar
que impediu a sua efectiva tomada do poder no país.
Portanto esta é uma espécie de espada
de Dâmocles que pende sobre a rede de pipelines
do Magrebe que é crucial para o abastecimento
à Europa do Sul.
Em 2º lugar Sines e a costa portuguesa podem oferecer
à Europa alternativas para esta aumentar a sua
segurança energética face ao comportamento
da Rússia que desde o início de 2006 revelou,
com a crise do corte de gás à Ucrânia
e em 2007 com o corte do abastecimento de petróleo
à Bielorússia, uma propensão para
utilizar a energia como arma geopolítica, o que
inquieta toda a Europa. Não podemos esquecer
que hoje a Europa importa 25% do seu gás da Rússia,
60% do Mar do Norte, 10% da Argélia e 3% da Nigéria.
Mas com o declínio da produção
no Mar do Norte, a tendência é para daqui
a 20 anos o gás russo ocupar cerca de 70% do
portfolio de importações da Europa.
Se nada se fizer a Europa pode ficar refém da
Rússia e num ponto nevrálgico do seu modelo
energético. No início de 2006 quando a
Rússia cortou o fornecimento de gás, à
Ucrânia, a Alemanha, a França, a Itália,
a Hungria, a Áustria e outros países europeus
foram fortemente afectados com reduções
de gás que variaram entre 30 a 80%. Quer dizer:
é crucial para a Europa a diversificação
das fontes de abastecimento e a construção
de um modelo energético mais seguro onde a Rússia
será sempre um parceiro a ter em conta mas que
não deve ser dominante. Sines e outros terminais
de LNG (“gás natural liquefeito”)
que se construam na costa portuguesa podem ser sempre
alternativas para importar gás da Nigéria,
de Trinidade e Tobago, da Guiné Equatorial e
de outros países da Bacia Atlântica. De
facto, Sines pode ser uma plataforma importante na génese
de um eixo do gás na Bacia Atlântica que
compense a Europa das suas fragilidades actuais.
Em 3º lugar Sines é importante à
luz de um facto que pode ocorrer a partir de 2011 e
que é a possibilidade de a Europa, se nada fizer
até então, ser confrontada com uma falta
de gás que pode chegar aos 70 mil milhões
de metros cúbicos por ano. Isto é equivalente
ao consumo actual da Espanha e da França. A falta
de gás deve-se ao facto de muitos países
europeus estarem a apostar em centrais a gás
sem assegurarem que vai haver gás suficiente.
Com os contratos actuais e as instalações
existentes na Europa não vai ser possível
satisfazer todas as necessidades. Acresce a isso o facto
de os 3 maiores produtores de gás do mundo e
que têm também as maiores reservas, estarem
em situação difícil para assegurar
os níveis crescentes de abastecimento.
A Rússia não tem investido no “Upstream”
na busca de novas reservas de gás e o seu sistema
de gasodutos e pipelines está a ficar obsoleto.
O investimento na Rússia está 25% abaixo
do necessário para enfrentar as necessidades
futuras. O Irão, que com a Rússia domina
50% das reservas mundiais de gás, está
paralisado com o efeito das sanções americanas
e não há projectos novos e significativos.
O Qatar decidiu fazer uma pausa e está a analisar
o potencial do seu campo “North Field” antes
de decidir, dentro de 2 a 3 anos, se vai embarcar em
novos projectos. Resultado: a Europa, para evitar uma
crise de fornecimento de gás no início
da próxima década, tem de construir entre
10 a 12 novos terminais de LNG e a costa portuguesa
é uma excelente plataforma para se candidatar
a alguns desses terminais que são cruciais para
o futuro da Europa e para a sua segurança energética.
Biografia
Presidente do Conselho de Administração
do grupo Partex Oil and Gas
Qualificação Académica:
Agregação em Planeamento e Gestão
Integrada de Recursos Energéticos, 2002, Instituto
Superior Técnico
PhD em «Development of stochastic models applied
to petroleum reservoirs»,1993, Technical University
of Lisbon/London Imperial College
Assigned Member of the Imperial College of Science and
Technology, London University, 1984
Mestrado em Petroleum Engeneering, 1984, Imperial College
of Science and Technology, London University
Licenciatura em Engenharia de Minas, 1983, Instituto
Superior Técnico
Principais Áreas Científicas
de Investigação:
Caracterização de reservatórios
e modelização integrando geologia e geofísica
Simulação dinâmica de modelos
Caracterização matemática e estocástica
de reservatórios de fluídos
Gestão de reservatórios e desenho de planos
de desenvolvimento
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